O PT é
inimigo da pequena e média empresa, que feneceu a olhos vistos desde que Lula
assumiu.
O novo pacto
que governa o Brasil é esse em que não haverá oposições. É um pacto em que o
partido governante dá as cartas e impõe a agenda política e cultural.
A Constituição de 1988 consolidou um pacto político, no qual todas as forças vivas – exceto o PT – concordaram em fazer a transição política, enterrando o ciclo militar. Esse pacto foi capitaneado por forças de esquerda, tendo à frente o MDB e a sua versão novel, o PSDB. Era a social-democracia chegando com toda força no Brasil. O apoio desse grupo era dado pelas forças conservadoras, as mesmas que deram sustentação ao regime militar, notadamente as que estavam filiadas ao PFL. O auge desse pacto se deu no segundo governo de FHC, que não conseguiu fazer o sucessor.
O PT tinha razões para não apoiar o pacto de
transição. A principal é que, dentro dos seus quadros, estavam os mais
aguerridos beligerantes contra o regime militar. Não se conformaram até hoje
com a Lei da Anistia. Queriam, e ainda querem, submeter os militares aos
julgamentos sumários de seus tribunais. Enquanto FHC governou, os pagamentos a
título de indenizações pelas Comissões de Anistia foram módicos e rigorosos. O
PT no poder destravou todas as amarras morais e orçamentária e vimos a verdadeira
ação entre amigos que foi feita.
O PT se manteve irredutível porque é um partido
revolucionário e o tempo mostrou que a cara feia e o “não” podem ser bons de
voto. Os antigos guerrilheiros e seus amigos sindicalistas souberam esperar e
usaram da persistência. Pouco a pouco foram tomando o poder – primeiro na
cidade de São Paulo, depois o governo do Rio de Janeiro, do Rio Grande do Sul e
finalmente, em 2002, elegeu Lula para ser o presidente do Brasil. Sua chegada
ao poder rompeu o antigo pacto político que dava sustentação ao poder. Lula
fundou um novo pacto.
De primeira hora teve o grupo ligado ao Sarney, que
não suportava o ungido de FHC, José Serra, para sucedê-lo. Quando ficou claro
que o PT poderia ganhar, as adesões foram se sucedendo, tanto no meio político
como no meio empresarial. Os banqueiros, cerca de três meses antes das
eleições, selaram seu apoio e escreveram para Lula a tal “Carta ao Povo
Brasileiro”. Henrique Meirelles foi o fiador junto aos plutocratas, assumindo a
presidência do Banco Central ao preço de abandonar o mandato parlamentar
conquistado pro Goiás. Não haveria qualquer espécie de auditoria nas dívidas
interna e externa e esse foi o preço pago pelo PT para pôr os banqueiros a seu
lado. Não se falou mais em auditorias.
No início, os neófitos do PT, liderados por José
Dirceu, tentaram, via Mensalão, prescindir de base parlamentar orgânica, no
exercício mais gigantesco e cínico de compra de votos no Congresso Nacional da
história do Brasil. Mesmo ali já se notava que as resistências ao projeto
político do PT estavam minadas. Não apenas o grupo do Sarney, mas o de Roberto
Jefferson e tantos outros, na conta do Mensalão, perceberam que não haveria
como sobreviver contra o PT. Era ou aderir ou desaparecer. As oligarquias
regionais foram feridas de morte pelo petismo.
Com o passar dos anos entrou em cena o comando dos
tribunais superiores, entes que também exercem funções legislativas e são
vitais para a governabilidade. Os novos ministros abraçaram sem restrição a
cartilha revolucionária do petismo e questões como as terras indígenas, os
quilombolas e aborto de anencéfalos passaram no SFT por folgada maioria. A
moral cristã estava ali em xeque. Depois veio a questão do gayzismo, que ainda
está por ter uma solução definitiva, não sem antes se ver a aprovação da união
de pessoas do mesmo sexo, contra a letra da Constituição. O aborto em qualquer
momento da gravidez está à espera de aprovação.
Nesse período, duas foram as derrotas notáveis do
PT: não ter aprovado o terceiro mandato de Lula e não ter prorrogado a CPMF. As
parcas energias conservadores dentro da própria base governista se uniram para
derrotar essa pretensão tão hegemônica. Foi uma lição para o PT, que aprendeu
que precisa emagrecer paulatinamente as forças legislativas das oligarquias,
ainda vivas. O tempo, todavia, estava a seu favor. O PT tem trabalhado
brilhantemente com a variável tempo.
O último gesto retumbante de adesão ao projeto
político do PT foi-nos informado pelos jornais de hoje, com a nomeação de
Guilherme Afif Domingos para um ministério de Dilma Rousseff, nomeadamente o
que vai cuidar das Pequenas e Médias Empresas. Afif sempre foi tido por liberal
e desde sempre estava na canoa do PSDB. Seu fiel escudeiro, Gilberto Kassab,
que nada faz sem sua prévia bênção, já havia traído os parceiros em eleições
majoritárias, mas foi com a fundação do seu PSD que a coisa ficou escancarada.
“Nem de direita, nem de esquerda, nem de centro”, proclamou. A adesão do então
prefeito de São Paulo era ela mesma a adesão de Guilherme Afif Domingos, agora
selada com sua nomeação para o ministério.
Paradoxal é que ele vai cuidar de uma pasta inócua,
visto que o plano econômico do PT, desde 2002, é fortalecer os grandes
oligopólios nacionais, com o confesso intuito de fazer o Brasil produzir
multinacionais brasileiras. O PT é inimigo da pequena e média empresa, que
feneceu a olhos vistos desde que Lula assumiu. Afif, assim, ajuda o PT encobrir
um dos maiores crimes políticos que o PT cometeu. E o fez de caso pensado, pois
a pequena burguesia capitalista detesta o socialismo e abraça o liberalismo.
O novo pacto que governa o Brasil é esse em que não
haverá oposições. É um pacto em que o partido governante dá as cartas e impõe a
agenda política e cultural. Aos parceiros cabem apenas ganhar dinheiro com as
facilidades do poder. Sua participação na governança do Estado é meramente
formal, em cargos sem poder de decisão. O Brasil vive, sob esse pacto, em um
regime de partido único, que se confundiu com o Estado.